Beleza prisioneira

Calida cresce no jardim
Resplandecente e bela
Porém, só.

A pequena olhou-se no espelho e sorriu com a imagem, tinha noção de quão bela era. Odiava-se por isso. Deixou que seus olhos corressem janela a fora. A irmã ria feliz e livre ao lado dos cachorros. Ela corria, eles seguiam. Ela mandava, eles obedeciam. Ela brincava, eles amavam-na. Quanto a si mesma, só podia observar.
Ambas recebiam a mesma educação, mas enquanto a irmã lia sob a sombra das árvores cercada pelos cachorros, pelos pássaros, pelo vento; ela lia recostada a reclusão de seu quarto.
"Meu pequeno tesouro", dizia sempre o pai, "uma verdadeira joia". Lindo rosto, linda voz, tudo lindo. E como qualquer bom tesouro, ficava só e trancada, longe de tudo, longe de todos.
-Sou seu tesouro, mas ela é seu amor. Pensava rancorosa.
Recebiam tudo de igual. Mesma roupas, mesmos livros, mesmos presentes.
Mas uma corria livre, e a outra esperava complacente.
Desejava ser normal. Deseja ser meio feinha. Deseja ser desafinada. Deseja ser a irmã.
Odiava sua beleza encantadoura. Os sorriosos cobiçosos. O espaço restrito. Odiava ser a perfeitinha bela. A princesinha do alto da torre.
Queria a feiúra livre do vento.
Queria a desafinação pulsante da liberdade.
Queria a cima de tudo não ser bela, para ser apenas ela.

Um comentário:

  1. Eu quero ser essa menina!!!! Quero odiar minha beleza também! XD

    Beijos, Bá!!!

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