O heroi aposentado

As pernas frágeis e tortas bambeiam arrastando o corpo enrugado. Ali vão mais de 80 anos. Os olhos baços passam por mim sem realmente ver-me. Ele encara o vazio de lembranças, as memórias deixadas pelo tempo.

Apoiado em mim ele caminha, sem sequer lembrar meu nome ou reconhecer minha face. Não consegue ao menos segurar o copo de água para matar-lhe a sede. As lagrimas escorrem-lhe a face sem vergonha, é velho demais para sentir timidez.

O gigante dos meus sonhos é agora apenas um velho enfraquecido. O tempo finalmente levou a melhor, e dia-a-dia ganha a luta que todos travamos desde que nascemos.

Embora fraco vejo no fundo dos olhos parcos, um brilho, uma força, uma sombra de tudo que foi. Uma sombra que luta para continuar a acordar e que não se deixa vencer.

O velho avô que antes me punha nos ombros e me contava histórias hoje mal consegue reunir forças para dizer meu nome.

Perdido em meio a suas lembranças ele sussurra histórias que conheço décor, mas que ouço ainda, ansiosa por mais. Rio das mesmas piadas e surpreendo-me com as mesmas aventuras.

Meu herói aposentado, meu bom velhinho, meu avô.

Suspiro cansada e feliz, sentada a seu lado. Mais um dia a seu lado, cuidando e tomando conta do homem que antes cuidou de mim.

Hoje seguro sua mão e lhe conto histórias, apenas porque ontem ele segurou a minha e me fez continuar a andar, me fez não ter medo.

Dou-lhe um beijo de boa noite e encosto a porta, deixando uma brecha para a sua entrar.



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