Última

O bip do relógio alertou as horas. Continuei deitada, entre desperta e sonhando, enquanto ele levantou-se e recolheu suas roupas espalhadas pelo quarto, fazia isso em silêncio, soturnamente. Espreguicei-me na cama e observei- vestindo-se. Ele sorriu-me levemente envergonhado, ignorei suas reações, queria guardar bem aquele momento, pois seria o último.
Naquela noite mais cedo, ao ver seu nome no visor do meu celular percebi que aquilo teria que terminar. Nada estava saturado em nossa inconstante relação de noites, mas eu não podia mais sustentar aquela situação. Ele inclinou-se, e eu sabia que era para me beijar, normalmente eu não o aceitaria, mas aquela era a última vez. Seria uma despedida. Beijei-o, um beijo cálido, calmo, carinhoso. E, talvez, pela primeira vez ele olhou-me, realmente, nos olhos. Senti que naquele momento nós nos conhecemos, depois de tanto tempo. Colocou a mochila nas costas e saiu, dali a alguns minutos, ouvi o carro dando partida, pela última vez.
Esparramei-me novamente na cama, o perfume dele impregnado nos travesseiros, nosso cheiro pairando no ar. Levantei-me enrolada no lençol e abri a janela, a brisa matinal entrou fresca. Deitei-me na cama, o aroma não passando de uma leve lembrança. A luz morna e aconchegante do sol embalando em um sono calmo.
A presença dele agora mal aparecia na minha bagunça, a noite com ele, a última e todas as outras, eram apenas murmurios vagos, sonhos fracos e distantes. Adormeci em sonhos brancos, placidos, ladeada por um a parca ausência de uma presença que parecia ter estado ali.

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