De longe tão encantadora, mas nunca chegara perto demais. Talvez pelo medo que sentia, talvez pelo amor que não queria. Não fazia promessas, não deixava esperança, era uma noite e apenas. Às vezes semanas, às vezes meses, não tinha pressa e nem tempo para ir. Sabia apenas, qual era sempre, o momento certo para partir.
Se pudesse dizer, diria desculpe. Se pudesse contar, seriam seus medos. Se pudesse parar, livrar-se-ia de seus segredos. Se pudesse deixar, daria seus sentimentos. Mas não podia e morreria antes de confessar que queria. Era apenas tão complicada quanto seus medos, e tão instável quanto suas inseguranças.
Quase não se lembrava do começo, fazia tanto tempo. Agora era só mais uma parte de sua natureza. Chovia. Correu porta a fora e deitou perto das flores olhou para cima. Atrás do manto de d’água escondiam-se as estrelas que tanto gostava. Tentou lembrar-se de como era o céu, sem a chuva e a neblina, não conseguiu. Desenhou em sua mente como seriam as estrelas, suas estrelas, brilhando na sua noite, do jeito que sua imaginação criará. Noite clara o bastante para espantar seus medos, bela o suficiente para não querer acordar nunca.
“É tão fácil sonhar e viver esquecendo da realidade”. Racionalmente sabia que apenas estava apunhalando-se. Talvez de nada adiantasse suas certezas e definições. Quem sabe com quais ilusões agarra-se a realidade.
Levantou e observou as flores, ao seu lado o silêncio e a solidão brincavam entre os lírios. Leais companheiros, porém, exigentes e possessivos, com o tempo acostumara-se com ambos. Caiam as últimas gotas quando percebeu que o sol nascia dissipando o bruma e iluminando o orvalho. “É tudo uma grande ilusão da qual faço parte, e mesmo que não faça...” .
Um suspiro de coragem, um último olhar pelo jardim, uma primeira volta entre as flores. Não estava distante, não acena adeus, e pela primeira vez disse:
- Venha!
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